Dicas de Saúde

Cuidando de quem cuida!

25/10/2024 às 16h13

Sempre falamos sobre os pacientes, sobre as necessidades dos pacientes, suas doenças, a necessidade de tratamento, mas é muito incomum na nossa prática nos preocuparmos com quem cuida desses pacientes. Principalmente quando falamos de um paciente que é dependente, que não tem condições de exercer sua autonomia, ou que tem doenças que limitam de forma muito importante fisicamente.

Precisamos lembrar que, para uma pessoa se tornar cuidadora, muitas vezes ela precisa abrir mão de muitas coisas em sua vida para poder estar ali cuidando. E o cuidado não é fácil, porque envolve nossas expectativas, uma mudança de estilo de vida, o que esperamos do outro e o que teremos de retorno desse outro que, no momento, está doente. O medo da morte do parente, o medo de perder esse parente – tudo isso se mistura.

Não é incomum, na prática, lidarmos com cuidadores sobrecarregados, adoecidos, com depressão e ansiedade. Cuidadores que, às vezes, só precisam ser escutados. Porém, não posso ser irresponsável ao dizer que apenas uma escuta simples no consultório é suficiente. Para muitos, é necessário oferecer um momento para que se cuidem, proporcionar uma consulta só para eles, organizar a rotina de cuidado, para que possam ter um tempo para si.

É importante lembrar que, para o paciente dependente que necessita de um cuidador, esse cuidador precisa estar bem. É aquela analogia que ouvimos no avião: em caso de emergência, devemos colocar a máscara primeiro em nós e, depois, na pessoa que não consegue colocar. Se eu não conseguir respirar, não conseguirei ajudar o outro. Ao invés de ajudar, posso acabar prejudicando ambos. Isso não é egoísmo; significa apenas que preciso cuidar de mim para poder cuidar do outro.

Esse cuidado é extremamente importante. Quando não o fazemos, colocamos o outro em perigo, inclusive em risco de maiores conflitos. Isso é especialmente válido para cuidadores únicos, que não têm ninguém na família para ajudar, sem nenhuma rede de apoio. Hoje em dia, essa rede de apoio tem sido cada vez mais incomum. A chance de o cuidador desenvolver uma doença mental e, às vezes, até sofrer agressão física, mental ou psicológica do paciente dependente é muito grande. Precisamos pensar nisso com mais frequência para que possamos cuidar também de quem está cuidando.

O paciente é sempre o termômetro do cuidador, da sua casa e da sua família. Muitas vezes é difícil controlar transtornos de comportamento no paciente se não tratamos a família e o cuidador. Portanto, precisamos começar a cuidar de maneira diferente, com uma visão global do paciente e de seus cuidadores.

Dra. Gabrielle Martins, geriatra do Ambulatório próprio do Fisco Saúde, que funciona na Sede do Sindifisco, na R. da Aurora, 1443, Santo Amaro, Recife. Se desejar, agende uma consulta.